sábado, 16 de fevereiro de 2008

Olga Benário Prestes

“Eu gostaria que soubessem que cumpri duas tarefas: uma do Partido e outra do meu coração”. (Olga Benario, Moscova, 1928).

Estou criando mais um blog. Dessa vez, sobre a grande paixão que tenho: História. Sou historiadora, estou terminando meu mestrado e não deixo de me apaixonar e surpreender a cada dia por essa ciência que, muito mais do que estudar o passado, tenta entender o homem e sua memória. Resolvi, então, criar esse blog. Que fique claro que é a minha versão, minha visão, mas com muito embasamento teórico e pesquisa científica.



Nesse primeiro post, achei que devia publicar algo sobre o que eu chamo de lado "bom" da História, aquilo que me faz ter orgulho do ser humano: pessoas que valem a pena. E pra mim, Olga Benário é uma delas.

Em 2008 se celebram os 100 anos de nascimento dessa grande mulher, revolucionária e líder que marcou as primeiras décadas da História do século XX.

Olga era judia, comunista e alemã, na época do nazismo. Uma combinação impressionante que basicamente era sinônimo de morte. Mas Olga lutou. Lutou pelo que acreditava. E foi parar no Brasil, para fa
zer a revolução comunista com Luís Carlos Prestes, o famoso líder brasileiro. A revolução contra o governo de Getúlio Vargas fracassou, e Olga terminou presa e, grávida de 7 meses, foi deportada pelo governo brasileiro -contra todas as leis internacionais- e entregue nas mãos da Alemanha nazista. Na prisão nasceu Anita Leocádia Prestes (a criança da foto), que hoje é professora de História na UFRJ. Prestes ficou 10 anos na prisão, e foi sua mãe, Leocádia Preste, quem mobilizou o mundo e conseguiu recuperar sua neta e evitar sua morte nas mãos nazistas, como aconteceu com Olga.

Abaixo, um resumo mais técnico da História. Além disso, recomendo o livro de Fernando Morais, Olga. O filme, de mesmo nome e baseado neste livro, não acho que vale a pena.

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Olga Benário Prestes nasceu em 1908, em Munique, Alemanha. Em 1923, então com 15 anos, ingressa na juventude comunista e cinco anos depois, como tarefa do Partido Comunista da Alemanha, prepara uma espetacular operação militar para libertar o também comunista Otto Braun, então seu namorado, da prisão de Moabit. Após essa ação, Otto e Olga se refugiam na URSS, onde passariam alguns anos.

Nesse período, já conhecida pela sua façanha em Moabit, Olga se torna um grande quadro político-militar da Internacional Comunista. Com excelente formação intelectual e técnica, ela se especializou em paraquedismo e pilotagem de aviões. Por essa destacada atuação, Olga recebeu, em 1934, a missão internacionalista de acompanhar, na condição de segurança pessoal, Luis Carlos Prestes ao Brasil, para que este liderasse a revolução de 1935.

Ambos adotam nomes e nacionalidades falsas, mas se apaixonam verdadeiramente como Antônio Vilar e Maria Bergner Vilar.

No Brasil, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), reunindo os operários, camponeses e setores progressistas da sociedade, realizava grandes atividades de massas, ultimando preparativos para o momento da verdadeira libertação do país. Por ser uma organização legal, congregava muitas pessoas, entre elas intelectuais como Graciliano Ramos.

A ANL foi posta na ilegalidade por Vargas, meses antes de novembro, porque temia o seu vertiginoso crescimento e seu caráter de frente revolucionária. Mas decidida, a ANL ultima os preparativos da revolução, apoiando-se em tropas que se levantariam nos quartéis do exército. Em 23 de novembro, soldados e sargentos do 21º Batalhão de Caçadores de Natal, Rio Grande do Norte, tomavam a guarnição militar e proclamavam o Governo Popular e Revolucionário. Ali, a revolução duraria 5 dias, mais que em Recife e mesmo no Rio de Janeiro, onde o levante é rapidamente sufocado.

Após a derrota da revolução no Brasil, Olga e Prestes tornam mais severa a sua clandestinidade, mas, denunciados, caem nas mãos dos fascistas de Vargas no início de 1936, numa casa da Rua Honório, no subúrbio carioca de Caxambi. Até o último momento, Olga cumpriu a tarefa de proteger Prestes, se interpondo entre ele e os policiais no momento da prisão, quando os esbirros de Vargas tinham ordem para matá-lo. Presos, agarra-se ao marido, porque sabe que a separação significaria a sua morte.

A polícia política de Vargas colaborava com a Gestapo e com o governo nazista em geral, e a entrega de Olga aos alemães há muito era acalentada.

Uma grande mobilização se fez entre os presos da Casa de Detenção do Rio de Janeiro para evitar que Olga fosse entregue ao regime nazista. Liderados pelos comunistas, os presos se rebelam, mas não conseguem evitar que Olga seja retirada da prisão.

Nem o fato dela estar grávida impediu que a extraditassem, juntamente com Elise Ewert, também alemã, esposa de Arthur Ewert, que participaram como membros da Internacional do levante de 1935.

Por essa época haviam diversos casos de resgates de prisioneiros dos nazistas em navios que faziam escalas antes dos portos da Alemanha. Organizações revolucionárias, que proliferavam entre os operários dos portos realizavam ousadas operações, conseguindo libertar várias pessoas dos verdugos fascistas. Para Olga, no entanto, foi preparado o embarque em setembro de 1936, num navio que não fez escalas, atracando em Hamburgo, onde a esperava a polícia política.

Na Alemanha, Olga é encarcerada na prisão de mulheres de Barnimstrasse, onde dá a luz à filha, Anita Leocádia Prestes e a amamenta até que os nazistas lhe tomam a criança, entregando-a à avó, mãe de Prestes, e transferem Olga para o campo de concentração de Lichtenburg, em seguida para Ravensbrück. Em fevereiro de 1942, Olga é transferida para o campo de Bernburg, onde é assassinada na câmara de gás, tendo o mesmo fim de tantos comunistas que caíram nas mãos dos nazistas.

Um dia antes de morrer, Olga escreve sua última carta, revelando não se render à morte porque acreditava que a causa dos proletários prosseguia, e que as novas gerações viveriam em um mundo sem a exploração do homem pelo homem.

" Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos, pela última vez ."

Adaptado de: Jornal o rebate

18 comentários:

María Noel Alvarez disse...

Parabens, Li! Eu adorei,

Até,

Noel

Lola disse...

Lívia, mais um assunto em comum...Amo este assunto...Tô meio malzinha de saúde, quando melhorar, volto aqui para ler tudinho... Mas, vamos ao que vim...Só para te avisar que tem um presentinho para você lá no "Consciência", passa lá para pegar!!!
Beijos.

Cristiane A. Fetter disse...

Tem um presente para você lá em casa.
www.todoyda.blogspot.com
Beijocas

Luma Rosa disse...

No último dia 12 foi comemorado o centenário da morte dela, você viu? O Brasil não lembra. Ela recebeu homenagens em Berlim. A Galeria Olga Benario de Berlim inaugurou “pedra de tropeço” (pequenas placas de latão cravadas nas calçadas dos prédios onde moraram vítimas do Holocausto), em frente ao último endereço que ocupou na capital alemã, na calçada da Innstrasse 24, no bairro berlinense de Neukölln. Beijus

Lola disse...

Oi, moça,
Quando voltar, passa lá no "Consciência" que tem mais uma lembrancinha para você lá...
Beijos.

Lola disse...

Aliás, tem duas...

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joice disse...

Olá. Também sou historiadora. Adorei seu blog. Pude complementar minhas aulas com textos que nele encontrei. Faça uma visitinha no meu blog tb, por favor! Abraços
http://profjoicebelini.blogspot.com

Unknown disse...

Oiie,
Parabéns seu post me ajudou em muito sobre um trabalho qe tive qe fazer soobre Olga..
Muito Obrugada.
Beijos

Angélica Oliveira disse...

Adoreiii, precisei fazer um trabalho de escola com o assunto, e simplestemente acabei de aprofundando mais no assunto....acho muiito interessante estudar, ler, assistir, cenas que contem o passado.....


Simplesmente ótimo

Angélica

Unknown disse...

Amei o resumo do filme e ele vai me ajudar muito na prova. Cá entre nós, que filme triste....
Muito obrigado por ter me ajudado

Anônimo disse...

po valeu

Anônimo disse...

amei o texto tambem adoro historia e sinto a mesma necessidade que voce de contar a minha versao dos fatos
bjs:leticia

Arieli Moraes disse...

ola adorei seu texto sobre Olga estou fazendo um trabalho para ciência politicas sobre a história em questão obrigado...

hilda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
hilda disse...

Para que hoje pudéssemos viver com liberdade de expressão, democracia, direitos humanos etc, muitas pessoas tiveram que morrer como OLGA fez ela lutou até o fim pelo que acreditava e com muita coragem.Sua história deve realmente ser divulgada.

Anônimo disse...

Olga realmente foi uma mulher que nos dá um exemplo sem igual,mulher que lutou pelos seus ideais nunca desistiu de seus sonhos...sempre soube o que quiz.....Parabéns....Linda história.....Bjooss...

Helena Lyra disse...

Helena Lyra,adorei saber mais sobre essa grande mulher,muito obrigada Livia,me ajudou bastante em um trabalho sobre ela.Você realmente da vida à historia.